As portas, apesar de fechadas à chave, abriam-se sozinhas. E por vezes durante a noite, estando a família deitada, ouviam-se passos nos corredores, portas a abrir e fechar, quadros a mexerem-se e caírem, e até pequenos objectos a mudar de posição.
Tendo falecido nas proximidades, num acidente de mota, um jovem conhecido da família, a imagem deste apareceu no palacete no momento da morte, esboçando um sinal de despedida e desaparecendo a seguir, como se o moço quisesse dar a notícia de que acabara de partir.
Dora, quando permanecia na casa de banho, via ali aparecer frequentemente um frade calvo e sorridente, envergando vestes conventuais, espreitando-a com ar maroto sobre a porta. Aquele frade até é um tipo simpático e divertido, dizia. Não era uma figura vaporosa, tratava-se de uma imagem compacta, uma imitação rigorosa de um homem real. Dora, embora evitando a aproximação, tinha a impressão de tratar-se de algo palpável. E, à parte o pequeno susto sofrido na primeira vez que a viu, o sentimento que essa figura lhe inspirava não era arrepiante, antes pelo contrário, parecia trazer-lhe paz interior.
A filha mais velha, de 12 anos de idade, gostava de contar-me as suas experiências pessoais. Uma das mais interessantes havia ocorrido numa tarde em que se encontrava sozinha na sala de estar. Começou por sentir que a temperatura da sala sofreu uma queda brusca. De seguida viu a porta abrir-se e entrar uma velha senhora, com uma configuração física pouco compacta. Assustada, a adolescente ouviu a velha tentando sossegá-la: Não tenhas medo que eu não te faço mal! A estranha mulher murmurou depois uma mensagem inaudível e desapareceu.
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