segunda-feira, 9 de maio de 2011

UM AUTARCA HONESTO



O povo julga que sob a vistosa plumagem de cada político reside sempre um corrupto. Mas não é bem assim. O meu tio conheceu um alentejano que é exactamente o oposto disso.

Eleito deputado quando esse lugar era mal remunerado e não existiam apetecíveis reformas acumuláveis com outras, deslocava-se todas as semanas da sua terra para o parlamento num carro de baixa cilindrada. Tinha direito, como qualquer funcionário público, a uns tantos escudos por cada quilómetro percorrido. Mas ele entendia que, gastando o veículo pouca gasolina, bastar-lhe-ia processar metade dos quilómetros.
Posteriormente assumiu durante anos, na sequência de sucessivas eleições, a presidência da Câmara do seu concelho. E manteve a mesma postura de cidadão íntegro, saindo quando quis, pelo seu próprio pé.

Um outro deputado, que era um conhecido e condecorado autarca, simpático e desenrascado, fazia exactamente o contrário, procurando arrecadar o mais que podia. Não se limitava a processar ilicitamente os quilómetros feitos no carro da Câmara, ele recebia também pelos quilómetros não percorridos, a acrescer a ajudas de custo não vencidas. Às quartas-feiras, quando reuniam apenas as comissões parlamentares, estando ausente, pedia que lhe guardassem uma linha no livro de ponto para sobre ela assinar dias depois, quando passasse ocasionalmente pela Assembleia. Desse modo acrescentava ao seu pecúlio, por cada trapaça, o dinheiro correspondente a 700 quilómetros inventados bem como as respectivas ajudas.

O político alentejano não arranjou meios de fortuna e continua a levar uma vida modesta. O segundo, na sua luxuosa mansão, já terá esquecido os problemas que teve com a justiça, não por questões menores como as que mencionei, mas por outras mais graves que, durante muito tempo, constaram dos jornais nacionais.

Quebrando a ideia de que os magistrados nunca agem contra políticos influentes (o que, de certo modo é verdade), também o simpático e produtivo presidente da Câmara Municipal de Oeiras, vem sendo acusado de crimes graves relacionados com dinheiro. O homem é de trato tão afável e agradável que os seus munícipes lhe perdoam os deslizes. Não será por acaso que ele ganha sistematicamente no seu concelho as eleições por maioria absoluta, mesmo como independente.

Os portugueses serão seguramente os eleitores europeus mais tolerantes. Partindo do pressuposto (errado) de que todos os políticos são ladrões, então que permaneçam os mais simpáticos e activos.

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