sexta-feira, 6 de maio de 2011

SIDA



Apareceram-me umas manchas na barriga e fui ao dermatologista.

-- Senhor Doutor, o que será isto?
-- Você é casado?
-- Não
-- Tem namoradas?
-- Não
-- Tem namorados?
-- Porra, está a gozar comigo?


-- Ó moço, eu sou um simples técnico e terei de fazer uma avaliação tão correcta quanto possível para definir a sua situação. Para já vai submeter-se a uns testes ao vírus da SIDA…

Saí do consultório muito incomodado. Teria de fazer uma análise para saber se eu tinha o raio duma doença que tanto temia. Andei dias e dias esforçando-me por conseguir coragem. Nem sequer frequentei a discoteca nesse período. Sentava-me num canto dum café a pensar, a pensar… Mas como poderia eu ter apanhado tal vírus? Na discoteca havia espirros, copos mal lavados, micróbios no ar… Só sabia que não poderia estar seguro de nada. As coisas acontecem muitas vezes quando menos se esperam e da forma mais enviesada. Até que me decidi fazer a análise pretendida.

Voltei ao dermatologista com um envelope fechado em seu nome. Estaria ali alguma terrível sentença? Tomara uma benzodiazepina para descontraír mas avancei com medo para o consultório.

O homem abriu o envelope, olhou, voltou a olhar. Eu estava aterrado em frente dele, talvez branco como a cal da parede.

-- Então Senhor Doutor, isso está normal?
-- Não, não está!


Senti-me desfalecer, pareceu-me por momentos que ia perder os sentidos. Depois fui recuperando a consciência e ainda consegui ouvir o Dr. Pestana.

-- Pode ser que você esteja limpo, mas vamos repetir as análises porque há aqui uma pequena dúvida…

Saí do consultório determinado a não repetir a análise. Conhecia casos de indivíduos com SIDA que andavam a ser tratados há vinte anos. Se tivesse esse tempo para viver já não seria mau… Entre a dúvida e a certeza eu optei pela primeira.  

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