quarta-feira, 4 de maio de 2011

AS PRENDAS ABOCANHADAS POR UM E PELO OUTRO




Fiquei varado, apetecia-me bater com a cabeça nas paredes. Mas não havia nada a fazer, eu votara em tempos naquele tipo e não poderia voltar atrás e exigir-lhe devolve-me o meu voto!. Quanto ao outro, que fez idêntica figura triste, não passara de um mero ministro e nunca votara nele. Lamentei apenas o descaramento pela confissão arrogante do crime, como se este fosse uma virtude.

Há uns dois anos e meio, em Sintra, num restaurante que eu julgava modesto, sentara-se na mesa ao meu lado o primeiro, acompanhado da esposa. E eu, honrado com a proximidade de um casal de tamanha importância política (que parvo que eu sou!), até saboreei melhor a comida. Mas estou arrependido desse sentimento saloio, sinto náuseas, se fosse agora, ter-me-ia levantado e desaparecido…

Estando a ser julgado um político acusado de grosseira corrupção, ambos decidiram ir ao tribunal depor como testemunhas abonatórias do réu, garantindo aos magistrados que não fora apenas aquele acusado a receber objectos valiosos no exercício das suas funções públicas, também eles, embora não acusados, haviam abocanhado toneladas de prendas milionárias durante os seus mandatos, as quais levaram alegremente para suas casas. Dada a semelhança dos depoimentos televisivos de um e do outro, pareceu-me que ambos, embora de partidos diferentes, haviam consertado previamente o que dizer.

Contrariando as imposições compreensíveis do Código Penal, aquilo que eles estavam a aconselhar aos portugueses em geral e aos funcionários públicos em particular era isto: no exercício dos vossos cargos, façam como nós fizemos, recebam prendas à vontade e gozem-nas, o que é preciso é manter a tradição e a corrupção!

Compreendi melhor aquilo que oiço vezes sem conta da boca do meu tio Fernando:

-- Que merda de classe política esta!

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