Constava-me que trabalham muitos portugueses na Escócia. E um dia aproveitei uma viagem aérea promocional na Ryanair por 30 euros e voei para Edimburgo, com o endereço da entidade empregadora no bolso.
Haviam-me avisado:
-- Olha que ali, de 20 em 20 minutos, as nuvens mijam!
Não liguei à piada até porque era Verão.
Mas passava numa das artérias centrais da cidade, a 200 metros da catedral, quando uma nuvem se rompeu e começou a cair água a potes. Refugiei-me de imediato na primeira porta que vi, onde já se encontrava um chinês.
-- Shô, embora daqui!, berrou uma mulher ordinária que me pareceu uma espécie de contínua.
-- Olha minha vaca, vai falar assim à puta que te pariu!, respondi-lhe eu em bom português vernáculo.
A velhaca desconfiou que eu lhe gritara um qualquer impropério e foi chamar o chefe que, com falinhas mansas, me convidou a afastar-me, alegando que aquele era um edifício público. O chinês saiu mas eu fiquei, calado, com a camisa molhada, a aguardar que o aguaceiro passasse.
Depois fui à fábrica do peixe que fica nos arredores da cidade. Aceitavam-me ao serviço com horários pesados e com a obrigação de acarretar caixas de pescado dos camiões para os tapetes de tratamento. Mil libras escocesas mensais, daquelas que muitos ingleses ilegalmente recusam, por mero espírito nacionalista, como se estivessem infectadas ou fossem de valor inferior às deles.
Aquele emprego não me interessava, as mil libras representavam demasiado sofrimento para mim. Preferia continuar dependente do meu pai.
O dia correra-me mal.
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