Um dia pus-me a pensar: Porque não deverei eu gozar a vida na sua plenitude? Para quê passar todas as noites nas boites e todos os dias a dormir, cumprindo uma rotina tão desagradável?
Eu tinha a convicção de que, sendo a vida curta, dormir 8 em cada 24 horas, estaria a reduzi-la de um terço, como se estivesse morto durante esse período.
E decidi, ao regressar das discotecas, pôr-me ao computador, jogando e conversando nas redes sociais com gente do outro lado do mundo. E passei ainda a sair de casa para tomar várias bicas e acelerar na auto-estrada. Não queria perder mais tempo a dormir.
Mas perdi o apetite, comecei a emagrecer, surgiram-me tonturas e vómitos esquisitos e dormitava irresistivelmente onde quer que me sentasse. Além disso passei a sofrer de ansiedade e de um mal-estar indizível. Quando dormitava à mesa do café, parecia-me ouvir as vozes de todos os demónios que ardiam no inferno, as quais viriam do Além.
Compreendi que o tempo durante o qual estava acordado não correspondia a uma boa vida mas apenas a um horrível sofrimento. E entre o gastar oito horas a dormir ou oito a sofrer, passei a evitar o sofrimento.
Eu não era dono de mim mesmo, estava sujeito a leis naturais com as quais discordava mas que tinha de acatar.
Não temos outra alternativa que não seja mesmo passar um terço da vida a dormir...
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