Vejo as pessoas iludidas com os pequenos sucessos das suas carreiras profissionais ou com os prazeres sensuais ligados ao mundo material apelativo que as cerca e sei que não tardará o momento de cada uma delas ter de enfrentar situações complicadas inerentes à simples circunstância de andar na vida. Ao agradável sabor da felicidade transitória seguir-se-á inevitavelmente o travo amargo das desgraças pessoais, as quais, por muito negras que possam parecer, nem sequer poderão ser qualificadas de injustas visto que o problema de fundo não residirá na realidade em si, que não deixará de ser como é, mas tão só na não conformação de cada um com ela. Nas mentes humanas lúcidas germinam ideias que geram uma inquietação permanente quanto ao futuro. Será justo que uma pessoa gaste grande parte do seu tempo de vida a esforçar-se por progredir espiritual, cultural e materialmente para, de um momento para o outro, desaparecer deste mundo para sempre? Em face da insegurança que nos envolve e com tantos desgraçados a viverem à nossa volta situações complicadas, haverá justificação racional para nos agarrarmos à vida? Alguns superam o vazio que se esgueira nas suas consciências adoptando práticas religiosas ou supersticiosas, nelas buscando alento para continuarem a caminhar de cabeça erguida em cada um dos dias seguintes, alimentando a ilusão de, por essa via, poderem sobreviver indefinidamente em boas condições.
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