É na doença e na velhice que os seres humanos sentem maior necessidade de crença na existência de entidades divinas e na continuação da vida num outro mundo. E é por isso que os templos religiosos são frequentados maioritariamente por doentes e idosos. Alguns deles acreditam então pela primeira vez nos milagres de Fátima e passam a fazer os seus pedidos e promessas no grande santuário Os três pequenos pastores de Fátima, de acordo com trabalhos publicados por investigadores, comunicaram várias vezes no ano de 1.917 com uma entidade que lhes apareceu sob a forma de luz, a quem eles designaram de «Nossa Senhora». As três crianças não captaram as «aparições» de modo idêntico: entre elas houve quem visse e ouvisse ou quem apenas visse ou ouvisse. E uma quarta criança, um irmão da beatificada Jacinta Marto, também presente numa das aparições, não viu nem ouviu coisa alguma, segundo as suas próprias declarações, feitas à TVI à porta da sua casa no dia 27 de Junho de 1.999, pouco antes de falecer. As imagens visuais ou auditivas poderão assim não ser percebidas por todos aqueles que estão nos locais onde ocorrem acontecimentos dessa natureza. Serão total ou parcialmente percepcionadas por uns e não por outros. De boa fé, os primeiros jurarão que «viram» e os segundos garantirão que os outros mentem. A comunicação estabelece-se ao nível psíquico, eventualmente através de processos de natureza telepática. A realidade que cada indivíduo percepciona tem muitas coisas em comum com a realidade percebida pelos outros. Essa parte comum é a realidade padrão, aquela que leva os psiquiatras a separarem o normal do anormal. As realidades individuais que se afastam dessa fronteira são entendidas pela ciência psiquiátrica como inseridas em quadros clínicos que caracterizam determinados estados de loucura. Penso que essa ilação poderá ser incorrecta em certos casos. Parece-me óbvio que, além da realidade padrão percebida pelos sentidos imperfeitos das pessoas consideradas normais, existirão parcelas da realidade captáveis através da intuição ou de outros mecanismos extra-sensoriais. E esses modos de percepção não deveriam ser abrangidos pelo conceito de loucura. Se pudéssemos assistir às consultas psiquiátricas nas quais os pacientes apresentam como sintomas «visões» ou «alucinações», suspeitaríamos seriamente de que alguns deles são mal rotulados e erradamente internados em manicómios, apenas por insuficiência do saber dos médicos. Os cientistas, tendo um conhecimento limitado da mente humana, caem com frequência na confrangedora tentação de explicarem tudo o que conhecem e desconhecem.
(texto do autor do blogue)
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