A qualquer indivíduo lúcido, obcecado ou não com problemas metafísicos, não deixará de colocar-se algumas questões. Valerá a pena andarmos empenhados, perdendo tempo e gastando energias, em descobrir o sentido da existência quando este, seja ele qual for, não é susceptível de ser modificado, quer o compreendamos ou não? Morrer sabendo por que se morre modificará alguma coisa? O facto de saber evitará a morte? Não seremos menos infelizes vivendo o dia-a-dia o melhor que pudermos e procurando afastar da mente as preocupações relacionadas com o nosso futuro incerto? As dúvidas que nos afligem, nada resolvendo, não servirão apenas para agravarem a nossa infelicidade? Um homem não retirará melhor proveito da vida afastando-se das angústias metafísicas e cultivando a alegria e a ilusão positivas? Espinosa, que nasceu em 1.632 e era filho de judeus portugueses, defendia uma atitude pragmática. Identificava Deus com as leis da Natureza e entendia a felicidade como a presença do prazer e a ausência da dor. O verdadeiro sentido da vida consistiria em procurar o primeiro e evitar a segunda. Por sua vez, François Marie Arouet, nascido em França no ano 1.694 e que adoptou o pseudónimo «Voltaire» durante a sua prisão na Bastilha, gostava de contar a história do bom Brâmane:
-- Eu desejaria nunca ter nascido!
-- Porquê?
-- Porque passei quarenta anos a estudar e a pensar e acho que todo esse tempo foi perdido, não chegando a nenhuma conclusão segura. Quanto mais penso, mais sofro.
-- Mas a poucos metros da tua casa mora uma pobre velha ignorante que em nada pensa e vive feliz!
-- Tens razão… Já tenho perguntado a mim mesmo se eu não seria mais feliz se fosse ignorante como essa vizinha… Mesmo assim não desejo tal felicidade...
Considerava Voltaire que «o estado de dúvida é desagradável, mas o de certeza é ridículo». Não sei como fui feito nem como nasci. Não conheço as causas daquilo que vi, ouvi e senti. Vi aquilo que se chama matéria e não sei o que essa matéria seja.
O Espinosa é que tinha razão,pá.
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