quinta-feira, 4 de agosto de 2011

A GUERRA

Encostado a um pilar, disfarçado no meio da pequena multidão que enchia o espaçoso café, observei-o a uns dez metros de distância. Parecia-me ter lágrimas nos olhos. Sentado, ele estava concentrado num dos papéis espalhados sobre a mesa. Não eram lágrimas de quem tem sono, pareciam-me lágrimas verdadeiras, de quem está comovido. Aproximei-me, por detrás, e a uns dois metros consegui apanhar alguns termos, entre eles «Guiné». Depois afastei-me. Decorridos tantos anos, andaria o meu tio materno ainda preocupado com a Guiné? Sempre que lhe perguntava alguma coisa sobre as suas vivências na guerra colonial ele respondia-me incomodado «aquilo era uma guerrinha de merda mas eu não gosto de falar dela». Nunca consegui sacar-lhe nada, ele agia como se nunca lá tivesse estado.

1 comentário:

  1. Tem lugares de onde a gente nunca volta, mas nega, que é pra ninguém saber do tamanho da entrega de que somos capazes.

    Elis

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