terça-feira, 16 de agosto de 2011

A ILUSÃO DA VIDA - 5


Seleccionei uma notícia do extinto semanário português «Tal & Qual», de 8 de Janeiro de 1.999 e li-a atentamente. Numa página inteira, com a fotografia respectiva, era narrada a história de um professor da Universidade da Beira Interior, de quarenta e dois anos de idade, que jurava ser vítima de uma conspiração. Desesperado, o homem recorria em vão a todas as instâncias com o intuito de pôr termo à injusta perseguição que lhe vinha sendo movida.O professor garantiu ao jornalista que o reitor da Universidade da Beira Interior, através do Prof. Carvalho Rodrigues, utilizava o apoio dos cientistas americanos da NASA, para o perseguirem e estudarem. Ele sentiu pela primeira vez a presença dos espiões em Fevereiro de 1.996. Um dia, ao introduzir uma cassete dos seus filhos no rádio leitor do carro, à medida que as músicas passavam, ouvia uma sobreposição de vozes que me alertavam para o que fazia a minha mulher ou o que diziam de mim os meus alunos da Covilhã. O homem nunca mais teve sossego. "Pouco tempo depois recebo uma mensagem no ouvido esquerdo que, além de me dar indicações para ir a casa dos meus pais, dizia-me ainda que eu ia ingressar no Governo, mas que não lhes podia dizer nada". Só que o professor fez orelhas moucas à advertência dos americanos e mal chegou a casa deu-lhes a boa nova: Sabem que vou ingressar no Governo?. Os americanos não gostaram e de imediato disseram-lhe no ouvido esquerdo que assim não podia ser e que o iam desligar. A partir dessa altura, o Professor passou a sentir sinais intensos em ambos os ouvidos, conforme os raciocínios que fazia. Se o professor tinha um raciocínio correcto, zumbia-lhe o ouvido esquerdo, se o raciocínio estava errado, zumbia-lhe o direito.
O professor apresentou várias queixas à Polícia Judiciária, aos partidos políticos, às embaixadas da Rússia e dos Estados Unidos, à ONU e à Assembleia da República. A principal demanda deste homem era quero que me dessintonizem. Convicto de que o Governo Português estava ao corrente da situação, o Professor terá começado por pedir uma indemnização de um milhão de contos. E porque ninguém se mexeu para ajudar, subiu a parada para cem milhões. E até já apelou para o Tribunal Internacional de Haia.
Trata-se sem dúvida da história de um homem que sofria intensamente em consequência do funcionamento anormal do seu cérebro. Ele acusava os seus pretensos carrascos com tanta persistência porque tinha a certeza de serem eles a origem do seu sofrimento. Estava convencido de que a realidade era mesmo aquela que ele percepcionava. E lutava com todos os meios pacíficos ao seu alcance para modificá-la, tentando pôr fim à perseguição ilegítima. Mas o seu mundo era de todo irreal, idêntico ao de muitos pacientes que enchem os hospitais psiquiátricos.
Se o jornalista que escreveu a história tivesse lido a revista «Notícias Magazine» que acompanhou o «Diário de Notícias» do Domingo seguinte ao da publicação do seu artigo, poderia aí ter encontrado a explicação médica do mal de que padecia o professor. Os seus sintomas eram típicos da esquizofrenia. «Geralmente os sintomas que sugerem um diagnóstico de esquizofrenia são as alucinações auditivas na voz de uma terceira pessoa – que faz comentários às acções da pessoa ou que fala por ela, pensamentos estranhos introduzidos ou retirados da mente do doente, a convicção de que as suas acções são causadas e controladas por um agente exterior... Um esquizofrénico pode, por exemplo, acreditar que a polícia ou os serviços secretos controlam os seus pensamentos, que fala com um monge do século XVI ou que o seu vizinho do lado lhe põe todos os dias pregos na rodas do carro só para o chatear.  Alguns doentes sofrem de perturbações na função normal do cérebro – percepção, formação de ideias, alucinações visuais, auditivas, olfactivas e tácteis. Situações que nunca ocorreram mas que o indivíduo percepcionou. São convicções falsas mas reais para o doente que podem manifestar-se pela ideia de que alguma coisa ou alguém controla o seu corpo, as suas emoções ou pensamentos... Um esquizofrénico ouve vozes, vê coisas e acredita piamente que é vigiado por estranhos. Até agora ainda não é conhecida a origem precisa da doença esquizofrénica...».
A história do Professor da Universidade da Covilhã parece configurar um tipo de doença mental em que o sistema de percepções do computador humano está avariado. As informações que lhe chegam ao cérebro não têm correspondência alguma com a realidade, ignorando-se o processo de formação das alucinações de que padece. Serão estas simplesmente inventadas pela sua mente inconsciente ou ser-lhe-ão metidas na cabeça por entidades que lhe são estranhas? Esta poderá parecer uma pergunta sem nexo para os materialistas mas com algum sentido para muitos espiritualistas.
Talvez os mecanismos mentais que permitem aos videntes «verem» o futuro ou contactarem entidades imateriais como Nossa Senhora ou os espíritos de falecidos, não sejam muito diferentes daqueles que instalam sons e imagens na mente das pessoas que sonham ou na mente dos doentes esquizofrénicos. Estes têm frequentemente uma inteligência acima da média mas nas fases críticas tornam-se incapazes de conduzir as suas vidas. Por sua vez os videntes, alguns dos quais têm um nível intelectual muito limitado, são indivíduos com comportamentos individuais e sociais normais.
(texto do autor do blogue)

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