segunda-feira, 29 de agosto de 2011

AS HERANÇAS


A concorrência individual, se por um lado potencia o desenvolvimento científico e tecnológico que conduz ao bem-estar material das sociedades humanas, por outro incentiva o desrespeito pelos direitos alheios. A conquista dos bens desperta instintos egoístas nas criaturas que por eles bulham como cães famintos em disputa de um osso. Uma luta que é transportada para os próprios núcleos familiares onde a morte de entes que se julgavam queridos, por muito bondosos e amigos que tenham sido em vida, em vez de constituir razão de sentida consternação, dá azo a alguma satisfação disfarçada, acompanhada de acirradas discussões entre herdeiros, incompreensíveis e absurdas para quem as observa de fora, mas obsessivamente razoáveis para quem as vive por dentro. Quase sempre as heranças, mesmo quando não passam de bagatelas, geram desavenças entre os descendentes dos falecidos, ofuscados pelo brilho dos bens fáceis que caem de graça nas suas mãos sedentas. Familiares antes ligados entre si por laços de fraterna amizade, tornam-se inimigos ferozes durante e após a disputa do espólio. Uma querela estúpida, em especial quando estão em jogo valores insusceptíveis de melhorar a situação económica dos contendores, ou quando estes já são demasiado velhos para gozarem as vantagens que as heranças poderão proporcionar. Quanto mais fragilizada estiver a mente, mais os instintos afloram e mais irracionalmente age o indivíduo.


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