Noticiam as televisões portuguesas a existência de confusão humana à volta de umas promoções semanais de produtos baratos tais como três garrafas de água ou de azeite de má qualidade. Para pouparem de alguns cêntimos a 3 euros, os clientes atafulham a entrada muito antes de as lojas abrirem. Depois são as correrias, os protestos, os atropelos, as zaragatas, as garrafas partidas e intervenção da polícia. Uma vergonha.
O povo começará a ficar assim tão miserável? Não existem ainda alterações significativas das condições económicas que justifiquem a disputa de coisas tão insignificantes. Trata-se do conhecido fenómeno de egoísmo irracional açambarcador.
Há uns anos foi profusamente anunciada numa pequena cidade do interior a abertura de um novo hipermercado. Aos primeiros clientes seria oferecido um conjunto de dez pacotes de leite. Foi quanto bastou para se juntarem à porta, durante a noite, umas largas dezenas de pessoas, em fila. Aos preços actuais, o valor da oferta era uma bagatela de três euros e meio…
Os agressivos vendedores de apartamentos em «time-sharing» exploram essa irracionalidade subjacente à disputa dos bens materiais pelos seres humanos. Enchem a sala de papalvos angariados à pressão, propõem um preço exorbitante como se fosse uma pechincha, os colaboradores colocados em lugares estratégicos da sala atiram-se para a «compra» com fingido entusiasmo, e a seguir, por contágio, avançam os palermas com dinheiro no bolso…
Um dia fiz uma experiência com um amigo. Num hipermercado havia um monte de roupa sem qualidade a transbordar dum caixote de papelão. Tudo a 5 euros. As pessoas passavam, olhavam e continuavam. Nem um só comprador. Resolvemos então agir: com «gula», entrámos em competição um com o outro. Momentos depois já estávamos acompanhados de uns dez vorazes concorrentes. A seguir, cada um de nós devolveu ao caixote os trapos e afastámo-nos. Os outros açambarcadores olharam-nos embasbacados, largaram o produto e afastaram-se também…
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