sexta-feira, 15 de julho de 2011

LSD

A vida parecia-me difícil e as perspectivas futuras desanimadoras. Já perdera a esperança de conseguir um emprego compatível e o meu pai, que me sustenta, acabava de reformar-se de médico hospitalar e projectava exilar-se no Brasil. «Estou farto desta merda!», ouvia-o vociferar vezes sem conta.
Estava a ficar saturado de tudo, até do meu audi, que começava a dar-me sérios problemas mecânicos. A discoteca e o álcool já não me resolviam a angústia crescente. Todas as madrugadas regressava a casa infeliz, com um nó na garganta, como se estivesse a entrar em depressão profunda.
E fui então assaltado por uma ideia viva, persistente: porque não voltar ao LSD? Na minha adolescência vira-me em palpos de aranha para conseguir libertar-me do vício, mas desta vez achava que não tinha nada a perder. Fui ao bairro do Zé Lázaro, meu antigo fornecedor. Tive de aguardar dois dias para obter o ambicionado produto. Depois isolei-me, relaxei e, com uma seringa de qualidade, injectei suavemente o néctar dos deuses.
Que sensação agradável, que alívio! Dizia um filósofo que a felicidade é a ausência de dor. E eu sentia-me profundamente feliz, a dor desaparecera de todo! Depois, à medida que os minutos iam decorrendo, a minha percepção da existência aprofundava-se e eu entrava num estádio de inteligência muito mais elevado. Conseguia analisar a minha vida com objectividade, tudo se me tornara claro e inteligível, eu via a floresta no seu conjunto e não apenas a árvore que me pesava sobre as costas. Compreendia que os meus problemas eram coisas menores e conseguia analisar o meu passado e olhar o meu futuro com uma lucidez e um bem-estar indescritíveis. Os meus familiares falecidos, que eu julgava perdidos para sempre, vieram até mim, risonhos, fortalecer a minha alma. E vi uma luz intensa que me dizia: «vais ser um rapaz feliz!». Compreendi que era Deus, que também vinha em meu socorro.

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