terça-feira, 7 de junho de 2011

SÓCRATES FUTURO CANDIDATO À PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA



Ele havia preparado tudo ao milímetro, há uns tantos dias. 

Almeida Santos, em conluio consigo, ia avisando durante a campanha eleitoral: «se Sócrates perder as eleições, demite-se». Toda a gente achava estranha e descabida tal previsão. A que título o presidente honorário do PS haveria de anunciar desse modo a demissão do seu secretário-geral?

Na noite da derrota, muito antes de se apresentar aos jornalistas e ao País, para aguçar o «apetite» da vasta audiência colada aos televisores, deixou escapar uma conveniente «fuga de informação» para uma TV: «Sócrates vai anunciar a sua demissão».

Caminhou com grande serenidade para a frente do pelotão de jornalistas e, com um espantoso e simpático fair play, assumiu a derrota e anunciou a sua retirada da política, num discurso anormalmente longo para a circunstância. 

Como conseguia ele, sob tamanha pressão, discernir tão bem, apresentar um discurso tão escorreito, tão sincero, tão espontâneo, tão elegante?

Ninguém sabia que estava a ler o que dizia num teleponto escondido.

Saindo pela porta grande, Sócrates pretendia deixar bem gravada nas mentes dos milhões de portugueses que o viam através das televisões a sua última imagem pública antes das próximas eleições presidenciais:a imagem de um homem sereno, satisfeito consigo próprio, que se ia embora pelo seu pé, sem azedumes. A imagem de um grande patriota, que pôs os interesses da Nação acima de tudo, e que por esta deu o melhor de si mesmo…

Cometeu apenas um deslize, ao oferecer-se para responder a perguntas dos jornalistas. Ninguém poderia prever que uma atrevida repórter lhe colocaria inesperadas questões relacionadas com processos judiciais. Questões que por momentos atrapalharam Sócrates. 

A imagem positiva que ele pretendia deixar na memória dos portugueses ficou assim prejudicada.

Mas não há dúvida: foi uma jogada de mestre, própria do excelente político profissional que ele é.

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