Nunca falei com ele, não sei se será mudo ou surdo, coxo não é porque já o vi andar, cego também não porque o vejo olhar. Mas julgo que terá uma qualquer deficiência.
Durante anos e anos o homem, ainda novo, vem-se mantendo sentado numa esquina de rua, a cerca de cem passos da estação dos caminhos de ferro da Vila, observando os carros que entram e saem da rotunda. Faça frio ou calor, seja Verão ou Inverno, ele está sempre ali no seu posto de vigia, cumprindo um horário rigoroso e longo. Vejo-o sempre que lá passo, no início da manhã ou no fim da tarde. Têz escura, pele curtida pelo sol e pelo ar, olhos vivos e penetrantes, não incomoda ninguém, mostra-se sempre sereno e apenas curioso.
Se algum dia, passando, não o vir, sentirei a sua falta.
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