Há poucos anos via-o na estrada fardado de ciclista, pedalando vigorosamente montanha acima. Apesar de estar a caminho dos 80, ele tinha uma preparação física invejável, fazia mais de cem quilómetros sem parar.
Admirava-lhe sobretudo a qualidade de estar sempre pronto para ajudar os outros. Vi-o um dia à entrada do hospital acompanhando a esposa que entretanto faleceu. Pouco depois, estando a irmã a viver sozinha, doente, levou-a consigo para ajudá-la a tratar-se.
A última vez que o vi na Vila foi há pouco mais de um ano, no jardim. Ele ia passar por mim sem me reconhecer. Queixou-se então de alterações recentes na sua memória. Talvez fossem vestígios da doença de Alzheimer, pensei.
Regressado por uns dias, não tenho visto à sua porta o lustroso peugeot encarnado. Poderia ter perguntado à vizinhança, mas tive medo.
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