Os militares da Guiné-Bissau fazem o
que querem porque têm armas distribuídas. Quando os seus interesses
pessoais, por mais ilegítimos que sejam, são descurados, eles derrubam o poder
civil enquanto o diabo esfrega um olho, mostrando que estão acima de tudo e de
todos. Mas
em Portugal as coisas não são muito diferentes. Quando o governo de Marcelo Caetano,
por não haver oficiais do quadro em número suficiente para as guerras de
África, mandou publicar uma lei que permitia que os oficiais
milicianos mais experientes seguissem a carreira militar até ao posto de
coronel, os capitães do quadro (e só os capitães, por serem os
únicos «afectados») prepararam e consumaram um golpe militar. A história da «revolução patriótica» dos capitães de Abril, da qual tanto temos
ouvido falar, é uma grande treta! A bem da verdade, repetirei o que já aqui disse. Eles não estavam
minimamente preocupados com os superiores interesses da Nação, pensaram apenas
nos seus próprios interesses mesquinhos. Fizeram um golpe militar por causa de um simples Decreto-Lei! E ainda agora, devido à gravíssima crise financeira, estando as promoções e carreiras congeladas para todos os servidores do Estado, os homens armados bateram o pé, os ministros atemorizaram-se e o governo abriu uma excepção para eles! Os abrilistas não querem saber da crise para nada, muito menos dos concidadãos! Querem é saber de si próprios! Cortem-lhes algum direito e eles ameaçarão com as armas! Tal como na Guiné!
E Otelo, o chefe do golpe militar, bateu-se depois do 25 de Abril, empenhadamente, não por criar uma democracia política mas pela imposição da ditadura do proletariado, contrariada por Mário Soares. E, ainda hoje, ele não está calado! Em
entrevista à Agência Lusa, Otelo Saraiva de Carvalho vai ameaçando: "Os militares pertencem à classe burguesa,
estão bem, estão bem instalados, têm o seu vencimento, vão para fora e ganham
ajudas de custo, são voluntários e os que estão reformados ainda não viram a
sua reforma diminuída". Mas a situação pode mudar no dia em que os
militares perderem os seus direitos". "Se
isso acontecer é possível que se criem as tais condições necessárias para que
haja um novo 25 de Abril". Otelo, que não é mentiroso, lembrou
que «o movimento dos capitães iniciou-se precisamente por "razões
corporativistas", nomeadamente quando "os militares de carreira
viram-se de repente ultrapassados nas suas promoções por antigos milicianos, através de um decreto-lei...".
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