Subia uma rua estreita em Torres Novas e, inesperadamente, vi um motociclista fora de mão a travar e a estatelar-se nas pedras frias da calçada. Parei e fui a socorrê-lo. O homem estava pouco magoado mas a mota precisava de arranjo. Aconselhei-o a ir comigo ao hospital e a tratar do motociclo depois. Mas ele, com humildade, entendeu que não era preciso. Depois ouvi um comentário vejam lá, um carro aqui em sentido proibido! Aproximei-me do mirone e perguntei Mas eu vou em sentido proibido?!, ao que ele respondeu Vai sim, puseram o sinal na semana passada... Eu já por ali havia transitado anteriormente e, conhecendo o local, nem me dera ao trabalho de estar atento aos sinais, conduzia em «piloto automático». Envergonhado, insisti com a vítima vamos ao hospital porque você poderá estar magoado…, depois vamos a uma oficina consertar a mota. Mas o lesado continuou a recusar. Passámos por um mecânico próximo que disse entregar a mota no dia seguinte, tinha de meter-lhe uma peça que no momento não possuía. Quanto custa o conserto, eu pago já?. Mas a vítima recusou delicadamente qualquer pagamento. Para onde vai?. Para a minha terra, a dez quilómetros daqui, se fizer o favor, deixe-me na estação dos comboios. Mas eu vou lá pô-lo, você não precisa de ir no comboio!. O homem recusou gentilmente, estava mesmo decidido a ir no comboio. Vi-o partir e disse-lhe adeus. E ele acenou amistosamente. Eu havia-lhe estragado o dia mas o lesado fez questão de recusar qualquer compensação da minha pessoa. Senti-me pequeno perante aquele humilde mas enorme aldeão. Deu-me uma lição que não irei esquecer durante muito tempo.
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