domingo, 22 de janeiro de 2012

A irmandade do Correio da Manhã

É um fenómeno curioso: nos últimos anos quase todos os Cafés de Portugal passaram a comprar o jornal diário Correio da Manhã para os seus clientes lerem. Poderiam ter optado por outro diário qualquer mas preferiram o Correio da Manhã. E em cada Café criou-se espontaneamente uma espécie de «irmandade do Correio da Manhã». São reformados, desempregados e donas de casa desocupadas que se colocam em pontos estratégicos para fazerem circular entre si o desejado diário, não tolerando que um qualquer pára-quedista desconhecido, ali caído, entre em concorrência com eles. Nas bibliotecas públicas a situação não é muito diferente: havendo diversos jornais ao dispor, todos disputam o Correio da Manhã. Decidi comprar o Correio da Manhã e fui lê-lo para o Café Central. Assaltos, facadas, tiros, violações, pedofilia, zaragatas, assassínios, prisões, julgamentos, acidentes graves, políticos corruptos e futebol. Enquanto lia com disfarçado «fervor», topei vários pares de olhos pregados no meu jornal, alguns deles chispando ódio pelo facto de eu estar a demorar demasiado tempo. Quando acabei, veio de imediato ao meu encontro um tipo com aspecto de ratazana de biblioteca perguntar-me: «posso levá-lo»?. «Não!», respondi. Os vários pares de olhos rancorosos ficaram atónitos. Afinal o jornal era meu!

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