Gente boa procurou
salvar os gatos da Vila e largou-os ao longo do pontão, sujeitos à violência das
ondas do mar mas mais protegidos das acções de perseguição e liquidação.
Algumas pessoas vão passando por ali e distribuem-lhes água e comida. Os animais
foram demarcando os seus territórios e, sempre que vêem alguém com um saco de
plástico na mão, saem dos respectivos buracos e imploram alimento. Incapazes de
pescar, ao contrário das gaivotas que os sobrevoam, eles estão dependentes da generosidade
de habitantes condoídos. Há dias levei-lhes duas refeições. Dei-lhes secos na
primeira passagem, e na segunda mimei-os com carne enlatada, que eles
disputaram com avidez. Ao sentar-me na extremidade do pontão era seguido por uma
dúzia de gulosos bichanos. Foi então que uma burra mulher pegou numa máquina
fotográfica e apontou-a aos gatos e à minha pessoa. «Não lhe dei autorização para fotografar-me!», protestei irritado. Veio-me
então a imagem de outra cena desagradável. Era a primeira vez que
eu via tantos gatos instalados ao longo de amontoados de pedregulhos junto à
costa. Quando eu dava alimento a alguns deles, apareceu um homem de alguma
idade que também transportava comida. Com ar feroz, olhou-me e vomitou uma
frase que não seria agradável mas que eu não conseguia entender. « Τι κάνεις εδώ με τις γάτες μου?» Respondi
com a certeza de que também ele não me entenderia: «Deixa-me em paz, meu porco ! » Estaria ele convencido de que
adquirira direitos exclusivos de alimentar gatos naquele local? Que mal estaria
eu a fazer? Talvez ele fosse um bastardo maluco deixado ali em tempos por
Mussolini, que gostava de passar férias num palacete a escassas dezenas de metros, na
pequena cidade de Rodes.
Pode-me traduzir aquele insulto esquisito? Está em língua de gato ou em língua de cão?
ResponderEliminarEstá em língua de cavalgadura
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