Influenciados pelo meu angélico
ar de copinho de leite que na vida se limita a passear o seu «audi», alguns dos
meus amigos actuais ficariam surpreendidos se eu lhes falasse da minha passagem
pelo inferno do Iraque. Mas nada tenciono contar-lhes. Nunca! Ainda hoje acordo
com pesadelos. Vejo-me amarrado a uma cama de um mau hospital, imobilizado com
ferros, sujeito a que um estupor, valendo-se da incapacidade que me tolhia, entupisse
a minha água engarrafada com comprimidos vermelhos destinados a tratar dores. Horrorizava-me
aquela prisão forçada. Que seria de mim se houvesse ali um incêndio? Do canto
onde me encontrava via muitas vezes, através da minha miopia, um doente que caminhava
lentamente no corredor com uma espécie de lanterna na mão e entrava na casa de
banho. Ainda o vejo agora, quando começo a adormecer. Eu sentia inveja de não
estar em condições de fazer o mesmo. Ao menos aquele movimentava-se. A
«lanterna» seria possivelmente um dispositivo de entrada de líquido numa das veias do paciente. Nunca tentei saber da sua história, nem sequer sei se chegou
a sobreviver.
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