domingo, 19 de agosto de 2012

Um estranho acidente sofrido por um rapaz brasileiro


Um jovem brasileiro de 24 anos sobreviveu miraculosamente à perfuração do crânio por uma barra de aço com quase dois metros de comprimento que caiu do quinto andar de um edifício. O acidente aconteceu na quarta-feira no Rio de Janeiro, mas só ontem foi divulgado.
Sobreviveu mas ficará com a sua mente alterada para o resto da vida, de acordo com os estudos do cientista português António Damásio, que analisou casos semelhantes, descritos no livro «O Erro de Descartes». Transcrevo um texto elucidativo.

Logo nos primeiros capítulos ele fala sobre um dos casos mais famosos da neurociência: Phineas Gage. Phineas Gage foi um australiano que viveu em meados do século XIX. Segundo relatos da época, ele era um homem muito gentil que trabalhava na construção de ferrovias. Após um acidente em 1848, envolvendo explosivos, uma barra de ferro atravessou sua cabeça. atingindo o cérebro (parte pré-frontal). Felizmente ele foi socorrido na hora e conseguiu sobreviver. Mas ele não só sobreviveu como não ficou com nenhuma sequela aparente (exceto por um olho que ele perdeu). Visão, fala e movimentos perfeitos. Entretanto, logo depois de recuperado, Phineas Gage teve seu comportamento completamente alterado: começou a usar palavrões, fazia comentários cruéis desnecessários, tratava mal as pessoas, e fazia péssimas decisões que não levavam em conta as consequências. Morreu pouco mais de 10 anos depois pobre e sozinho. Na época, um médico estudou o seu caso, e é graças a ele que temos todas essas informações.
O caso Phineas Gage é importante pois foi o primeiro caso que mostrou que emoção e comportamento estão sim associadas a uma parte específica do cérebro.

Reconstituição da passagem da barra de ferro no cérebro de Gage
No livro, Damásio ainda fala de um caso semelhante ao de Phineas Gage que ele teve a oportunidade de estudar, o caso de Elliot. Elliot sofreu um acidente semelhante ao de Phineas Gage, demonstrando os mesmos sintomas. Damásio aproveitou a chance para estuda-lo. Fez diversos testes de QI, além de outros tipos de testes de inteligência. Surpreendentemente, Elliot se saia muito bem, às vezes melhor do que a média da população, provando que era dono de um intelecto saudável. Ao longo da convivência com Elliot, Damásio se deu conta que Elliot contava sobre a tragédia da sua vida de forma impassível. Com o passar do tempo, notou que Elliot quase nunca se zangava, nem se incomodava com as milhares de perguntas repetitivas de Damásio. Num outro teste, foi colocado estímulos visuais carregado em frente de Elliot como: pessoas se afogando, incêndios terríves e terremotos horríveos. Nisso, Elliot, impassivo, fez um comentário que abriu os olhos de Damásio: sinto que meus sentimentos mudaram após o acidente. Ou seja, Elliot se deu conta que coisas que antes lhe causavam emoções fortes, agora não lhe causavam nenhuma reação, nem positiva, nem negativa.

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