O Sr. Francisco sempre
fora um homem exemplar, dedicado ao trabalho e à família. Quando se reformou foi
invadido por um sentimento de inutilidade e entrou em depressão. Apesar do
sofrimento, agravado pela posterior morte inesperada da esposa, procurava
manter-se independente, incomodando o menos possível as três filhas, já casadas
e integradas na classe média alta. Sendo as suas residências muito próximas, doía-lhe
o afastamento delas, mergulhadas num cruel e irracional egoísmo. Olhavam-no não
já como o pai amigo e protector que sempre fora mas como um fardo, uma futura
fonte de problemas. Uma vez um dos seus raros amigos passou por Lisboa e
levou-o consigo à aldeia beirã onde nasceram. Seriam uns dias de convívio. Só
que aquele tórrido Verão deu lugar a um repentino frio de Inverno. Esquecera-se
de levar consigo o cartão da Segurança Social e roupa quente. Em
cada dia as suas três filhinhas telefonavam-lhe dos respectivos empregos e Francisco
sentia por momentos o seu sofrimento atenuado. «Então paizinho sente-se
melhor?». Ao 12º dia, uma 4ª feira, Francisco avisou-as «no próximo domingo regressarei
a Lisboa e estarei na estação de Santa Apolónia às 20 horas». Uma delas ainda
insistiu «paizinho, deixe-se estar aí, que está bem». Ao que ele respondeu «não
posso filha, não tenho roupas de Inverno nem medicamentos, e esta não é a
minha casa». E a partir desse instante as três filhinhas queridas deixaram de
telefonar ao paizinho. Cada uma delas desejava que fossem as outras a tomarem conta do
«fardo» que aí vinha. Mas tudo haveria de correr bem, pensou. Enquanto o
comboio avançava, ele tentava enganar-se a si próprio «haverão de estar com os
seus carros à minha espera em Santa Apolónia e, sabendo que ainda nada comi hoje, e que ando doente, jantarei por convite na casa de uma delas». Mas o
comboio chegou ao fim da linha e ninguém o aguardava. Francisco sentiu-se
abandonado e traído. Tomou um táxi e foi continuar o jejum para a sua casa, vazia e fria.
Muitos seres humanos são de uma enorme ingratidão, não passando de animais selvagens. Mas não perderão pela demora
ResponderEliminarAquilo que as filhinhas pensavam enquanto falavam ternamente com o paizinho seria isto: ó paizinho, morre depressa, de ti apenas queremos os teus bens materiais!
ResponderEliminarQuando filhinhas desta estirpe se centram no feroz egoísmo do seu umbigo, não vêem mais nada à volta delas -- apenas o umbigo. E tornam-se sovinas radicais e doentias. Com medo que lhes comam um caroço de azeitona começam por enxotar os amigos leais mais chegados, a seguir enxotam os próprios pais. Até ficarem elas próprias no mais completo e tenebroso isolamento.
ResponderEliminarOu quererás antes dizer «a azeitona com caroço»? Seja o que for, as filhinhas são mesmo doentes!
ResponderEliminarDeixem essas filhinhas em paz. Quase todas as filhinhas do mundo, quando vêem o pai a decair, espetam-lhe o facalhão e depois de o meterem no caixão, choram abundantes lágrimas de crocodilo. São essas filhinhas que contribuem para reduzir a despesa pública. Quantos mais velhos elas matarem, melhor para os novos.
ResponderEliminarRaios partam todas as filhinhas traiçoeiras, ingratas e cínicas.
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