Quando
me aproximava da esquina, distraído e em «piloto automático», ouvi um grito
dentro da minha cabeça. «Dá-lhe um euro!». Não seria uma alucinação auditiva
mas apenas a voz da consciência. No extremo norte da Vila, a poucos metros da
estação de caminhos-de-ferro, lá estava o tal homem de tez escura no seu posto
de vigia habitual. Parei o carro, chamei-o e dei-lhe a moeda. E a seguir vieram
gestos estranhos, grotescos, braços que se erguiam e baixavam, murros fortes no
peito. Por momentos tive a impressão de, com aquela moeda, ter accionado uma complexa
engrenagem de aparência humana, um autómato, um robô. Mas depois pensei que talvez
o homem não soubesse falar e fosse aquela a sua expressão de agradecimento. Enquanto
tiver euros no bolso continuarei a experimentar
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