terça-feira, 27 de março de 2012

Um autarca bondoso e altruísta...

Os jovens chegaram cerca da meia-noite a Castro Verde, depois de uma viagem de autocarro a partir do aeroporto de Lisboa. De acordo com o presidente da Câmara Municipal, Francisco Duarte, “a autarquia está a preparar duas reuniões para amanhã, uma com os alunos e outra com os pais”, dedicada à necessidade de prestar apoio psicológico… “O que está em causa é uma avaliação técnica da situação e a definição de um programa de acompanhamento àqueles jovens”, acrescentou.” 
Todas as primaveras partem para Lloret del Mar, uma localidade próxima de Barcelona, milhares de estudantes portugueses adultos do 12º ano (com 17 a 20 anos de idade), em viagem turística de «fim de curso». Os tempos estão difíceis e não aconselham a que se queime dinheiro inutilmente mas eles e elas continuam a ir para a farra, com o país em crise económica e financeira severa. É uma semanada de barulho, borracheira, droga, sexo, noitadas até às 6 ou 7 da manhã, leviandades, e até comportamentos reprováveis que originam expulsões de hotéis. E, no meio de tanta balbúrdia, de vez em quando um estudante português salta de uma varanda e morre. Aconteceu isso há dois anos e voltou agora a acontecer, desta vez com um dos 21 alunos que na sexta-feira passada saíram da vila de Castro Verde, sede de um município alentejano com 7.000 habitantes cuja Câmara Municipal há muito deveria ter sido extinta, por ser desnecessária e cara para os contribuintes. A família próxima do falecido aluno (e não os colegas deste), aflita e em sofrimento, se for pobre, poderá precisar de acompanhamento psicológico pago pelo Estado, através da Segurança Social, em articulação com o sistema de saúde pública. Mas a Câmara Municipal de Castro Verde nada tem a ver com o assunto! Mesmo assim, num acesso de oportunismo serôdio, o seu presidente (que parece gostar de ser badalado nos órgãos de informação), pôs-se em bicos dos pés e convidou os estudantes a regressarem de avião a Lisboa onde os esperava um autocarro que os transportou às suas casas. Tudo à custa dos dinheiros públicos que jorram do Ministério das Finanças para aquela instituição, saídos dos nossos bolsos. Os estudantes poderiam ter regressado de autocarro, conforme o seu plano turístico, por eles (e não por nós) assumido e suportado. Mas resolveram aproveitar a bondade do sr. presidente… Trata-se de uma ilegalidade grosseira, talvez mesmo de um crime, mas o homem quer lá saber disso! O que interessa é fazer boa figura na terra e saborear o seu momento de glória! Como aquela patarata idiota lá da vila que vi na televisão, com lágrimas de crocodilo, a defender que as 21 «crianças» (aquela malta é adulta, mulherzinha! E aquilo não era uma viagem de estudo mas de turismo e gozo!) deveriam ter ido acompanhadas de professores, para as protegerem!!!

Há décadas, milhares de jovens alentejanos daquele distrito partiram para as guerras de África. Todos foram obrigados a ir. Muitos deles viam companheiros tombar à sua volta e nenhum autarca lhes acudiu! Todos tinham medo e sofriam intensamente com a insegurança e a violência do conflito, desejando regressar à paz das suas terras, mas nenhum presidente de Câmara apareceu para os ajudar! Alguns, traumatizados com os dramas e as mortes que presenciavam, careciam de apoio psicológico, mas nenhum Francisco Duarte se prontificou a resolver-lhes esse problema. Durante os dois anos de desterro forçado, aqueles jovens alentejanos desejavam visitar as suas famílias mas não tinham dinheiro para as viagens de avião, e nenhum autarca se ofereceu para as pagar, mesmo com o dinheiro alheio! Onde estaria então o sr. Duarte, este bondoso e altruísta presidente de Câmara? 

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