segunda-feira, 25 de abril de 2011

A ABRILADA



Também me rotulo de «jovem da geração à rasca», não tenho emprego e não vejo jeito de consegui-lo, apesar de ter um curso superior concluído na «Lusíada», numa segunda-feira, por conseguinte com credibilidade bastante. Se bem que deva confessar que, por enquanto, não tenho razões para queixar-me da vida. Passo os dias a dormir e as noites em discotecas. E até conduzo um «audi» que faz inveja aos meus amigos. Tudo à custa do meu pai que, de vez em quando, ameaça cortar-me a mesada.

Mas que culpa tenho eu de não conseguir emprego? Fui a todas as Câmaras (socialistas, social-democratas e comunistas) onde abriram concursos públicos adequados à minha licenciatura mas em nenhuma delas fui admitido. Por ser estúpido? Não! Apenas pela razão simples de tais concursos estarem viciados à partida. Antes de abrirem, os democráticos autarcas já tinham a lista dos amigos a admitir. Tudo como nas mais ordinárias ditaduras. Andei a gastar gasóleo e a fazer figura de parvo para, sem o desejar, dar sentido de legalidade fictícia aos crimes desses democratas de meia-tijela, seguramente abrilistas. 

 Alguns pensam que sou fascista e anti-democrata por estar contra este sistema corrupto. Mas são tolos. Conheci países onde reinam ditaduras e juro que não desejaria viver em nenhum deles. A não ser, talvez (não pensei bem nisso), se fosse eu o ditador. Não me estou a imaginar no meio das grandes massas de alemães que, em grande algazarra, se manifestavam de braço no ar a louvar Hitler e a guerra. Nem na Itália do socialista Mussolini que impunha o seu partido único aos italianos e que muitos destes digeriam com gosto, também de braço erguido. Digamos que odeio rebanhos humanos de imbecis e oportunistas que se juntam para glorificar mentirosos, malucos, sanguinários e ladrões.

Li muito sobre a «revolução dos cravos» e ouvi, durante intermináveis horas, o meu tio Fernando, que viveu por dentro a abrilada e conheceu os seus defeitos. Contrariando o que me ensinavam na primária, ele garantiu-me sempre que a famosa  «revolta patriótica dos capitães» se deveu exclusivamente ao facto de, por falta de oficiais do quadro, ter sido publicada uma lei que permitia aos oficiais milicianos combatentes fazerem carreira até ao posto de coronel. Os capitães do quadro sentiram-se prejudicados por essa lei e, apenas por isso, decidiram deitar o governo abaixo com as armas que lhes estavam distribuídas justamente para o defender. Compreendi então porque o 25 de Abril foi uma revolução de capitães e não de sargentos ou coronéis.

 Daí que deteste a glorificação da revolta do 25 de Abril. Basta olhar para os ridículos cerimoniais de todos os anos: uns discursos balofos, de circunstância, vazios de conteúdo. E muitos velhos a bater palmas, por dever de ofício ou por oportunismo. Nem um jovem. A não ser um ou outro idiota inscrito num partido e já com tacho público, ou com esperanças de o vir a alcançar.

Mas, embora não apreciando a glorificação do 25 de Abril, tenho grande consideração pelo competente chefe da revolta, Otelo Saraiva de Carvalho. Este demonstrou ao longo da sua vida que é um homem generoso e que comete erros mas sabe reconhecê-los. Nada pior num político ou num militar do que a mentira. Mas o honesto Otelo  é o único a confessar publicamente a verdade, decorridos tantos anos.

Para que os meus leitores (se os tiver) compreendam que tenho razão, anexo uma folha do «jornal de notícias» on line do dia 13 de Abril de 2011.









13 Abril 2011
Director
José Leite Pereira

Director Adjunto
Alfredo Leite

Subdirector
Paulo Ferreira




Perda de direitos pode levar militares a nova revolução


Para o "capitão de Abril" Otelo Saraiva de Carvalho bastam 800 militares para derrubar um governo, mas "um novo 25 de Abril" só deverá acontecer com a perda de direitos dos militares.











foto REINALDO RODRIGUES/Global Imagens
Otelo Saraiva de Carvalho

Em entrevista à Agência Lusa, a propósito do livro "O dia inicial", que conta o 25 de Abril "hora a hora", Otelo reconhece que, ao contrário da sociedade em geral, os militares não têm demonstrado grande indignação pelo estado do país.

E justifica: "Os militares pertencem à classe burguesa, estão bem, estão bem instalados, têm o seu vencimento, vão para fora e ganham ajudas de custo, são voluntários e os que estão reformados ainda não viram a sua reforma diminuída".

Mas a situação pode mudar, na perspectiva deste obreiro da "revolução dos cravos", para quem "a coisa começará a apertar, no dia em que os militares perderem os seus direitos".

"Se isso acontecer", sublinhou, "é possível que se criem as tais condições necessárias para que haja um novo 25 de Abril".

Otelo Saraiva de Carvalho lembrou que o movimento dos capitães iniciou-se precisamente por "razões corporativistas", nomeadamente quando "os militares de carreira viram-se de repente ultrapassados nas suas promoções por antigos milicianos que, através de um decreto-lei de um governo desesperado por não ter mais capitães para mandar para a guerra colonial, permite a entrada desses antigos milicianos".

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