Um enorme alarido invade agora os
órgãos de informação portugueses. Todos os palradores habituais bradam contra o
primeiro-ministro Passos Coelho porque acham que este está a ir longe demais
com o anúncio de novas medidas de austeridade. São os mesmos «comentadores» alarves que ainda há dias aplaudiam o
governo e se referiam com orgulho aos «nossos sacrifícios» em prol
do ajustamento da economia. Claro que os sacrifícios não eram deles, vinham
quase exclusivamente dos aposentados e dos funcionários públicos médios e superiores os quais,
para além do congelamento de carreiras e salários, do aumento dos impostos e da
elevada inflação, foram atacados com os cortes dos subsídios de férias e de
natal e ainda de 10 por cento dos seus rendimentos, caindo numa situação de
empobrecimento acelerado e assustador, desigual e injusto. Bastou, por pressão do tribunal constitucional, o anúncio da perda do salário correspondente
a um único subsídio por parte dos trabalhadores privados, para que os patrióticos comentadores, ao
verem a dura crise começar a aproximar-se dos seus bolsos, viessem a terreiro agitar artificialmente a opinião pública. No
meio desta algazarra, ouvi há momentos a voz serena do velho e inteligente
socialista Almeida Santos, que foi ministro de Mário Soares: mais
vale um mau orçamento do que cair de imediato na bancarrota e no caos. No
entanto, embora seja possível adiar o momento da explosão, esta não deixará de
surgir num destes meses, varrendo todos pelo caminho. É que Portugal jamais
terá condições para pagar a sua dívida externa, por mais cortes que se façam nos rendimentos das pessoas. Sócrates, que duplicou em poucos anos a dívida pública, tinha consciência disso quando afirmou em Paris que «a dívida não é para pagar, é apenas para gerir...»
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