segunda-feira, 25 de abril de 2016

O pequeno Marcelinho e a gloriosa revolta do 25 de Abril

Levantei-me tarde e fui tomar a bica naquele agradável café perto da Avenida da Igreja. E foi aí que, olhando a televisão, vi o Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa, com um cravo na mão (e não ao peito), lançar no parlamento lindas palavras de defesa da revolução de Abril que, por vontade da sua família pró-Salazar/Caetano, jamais teria acontecido. Seu pai, um convicto defensor de Salazar, foi um importante e ilustre Ministro de Marcelo Caetano, padrinho de baptizado de Marcelo Rebelo de Sousa, a quem deu o seu nome, e que foi o Primeiro-Ministro humilhado e derrubado em 25 de Abril de 1974, a data histórica que o ex-Marcelinho estava agora ali a comemorar. E olhando as galerias, descobri os célebres capitães de Abril que, por rancor ao governo anterior e sobretudo ao seu chefe Passos Coelho (que deveria ter sido corrido à paulada, segundo gritou um dia Vasco Lourenço), não compareceram nos últimos anos. Senti de novo o desagradável cheiro a bolor daquela farsa onde uns dizem o que não sabem e outros dizem o contrário do que pensam. As comemorações do 25 de Abril, ao longo dos anos, têm andado imbuídas de mentira, de representação teatral aplaudida por parolos, oportunistas, hipócritas, e até vigaristas e ladrões. Ficaria bem mais feliz se ali visse a serem homenageadas as curtas e heroicas equipas da Procuradora-Geral da República Joana Marques Vidal e do juiz Carlos Alexandre, os quais têm feito mais pela verdadeira democracia nos últimos anos do que todos os abrilistas juntos. Olhei os «jovens capitães de Abril», agora velhos, e vi Otelo e Lourenço mais afectados pelo reumático do que a por eles designada «Brigada do Reumático» que combateram há mais de quatro décadas. Estes dois homens fizeram asneiras políticas mais ou menos graves mas ninguém os pode rotular de oportunistas. Poderiam ter-se auto promovido a generais mas recusaram-se a fazê-lo. Foram honestos. E assim se mantiveram pela vida fora, não passando do posto de coronel, o mesmo que muitos profissionais da GNR sem «academia» e com o 11º ano atingiram. Não ganharam nada com a revolução que fizeram. Ali, no café da Avenida, eu dizia-lhes «sei bem porque é que vós, heroicos capitães de Abril, como os farsantes vos chamam para alimentarem os vossos egos, fizestes aquela revolta militar! Foi apenas para defenderdes as vossas carreiras profissionais! Apenas o Otelo Saraiva de Carvalho tem a coragem de confessar publicamente a verdade. E já o fez várias vezes! Os capitães rebelaram-se apenas por mesquinhas razões corporativas! Não foi uma revolução patriótica nem esteve revestida de nobreza alguma. Houve quem no Largo do Carmo tivesse, para as televisões e a imprensa verem, dado o corpo às balas inexistentes e fosse promovido a herói por isso. Mas esqueceis os muitos oficiais milicianos, beneficiados pelo Decreto, que nas matas africanas avançaram destemidamente contra balas verdadeiras, sem televisões nem jornais por perto. E que continuam em silêncio. O Decreto, o que é isso?, perguntou-me o tipo do lado. O governo de Marcelo Caetano não tinha oficiais do quadro suficientes para mandar para a guerra e teve de recorrer aos oficiais milicianos. Para o efeito publicou então um Decreto que permitia a profissionalização destes experientes combatentes. Mas os «heróicos capitães», porque receavam que alguns milicianos lhes passassem à frente na carreira, rebelaram-se contra o Decreto e deitaram abaixo o Governo do padrinho de Marcelinho. O regime de Salazar/Caetano estava politicamente moribundo há muito. Já não era internacionalmente defensável a contestada tese do partido único nem a manutenção do nosso império colonial, do qual já haviam saído o Brasil e a Índia portuguesa. Se não tivesse havido a revolta de 25 de Abril, um outro qualquer evento tomaria o seu lugar. Os espanhóis transformaram pacificamente num ápice o seu regime político pró-fascista em democracia. Sem revoltas militares, sem alarido. E não têm agora de assistir a esta fantochada todos os anos. A confusa revolta militar levada a cabo pelos «heróicos capitães de Abril» foi inadequada aos interesses de Portugal pela forma precipitada como originou a independência das colónias, atirando de repente para a miséria milhões de portugueses que nelas viviam e originando entre os nativos intermináveis guerras fratricidas. Foi uma vergonha o que se passou em Angola, Guiné, Moçambique e Timor! E os responsáveis estavam ali! Não me voltem a cantar o «grândola vila morena», isso já me mete nojo! Gritem por um regime verdadeiramente democrático, onde seja respeitada a lei e onde não haja lugar para ladrões e vigaristas no Poder. E onde ninguém tenha medo de dizer a verdade!

4 comentários:

  1. ENTÃO O MARCELO REBELO DE SOUSA ESTAVA ALI A COMEMORAR O DERRUBE VIOLENTO DO PAI (MINISTRO DAS CORPORAÇÕES) E DO PADRINHO MARCELO CAETANO (PRIMEIRO MINISTRO E SÁBIO PROFESSOR DE DIREITO) E OS SEUS DESTERROS PARA O BRASIL?!!!
    COMO FOI CAPAZ DISSO?!

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  2. Teria sido melhor furtar-se àquela palhaçada!

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  3. uma palhaçada própria de velhinhos caquéticos, com reumatismo no cérebro.

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  4. Cada velhote disse no parlamento as suas baboseiras. O Ferro pareceu querer aconselhar a Justiça e os jornalistas a protegerem os crimes dos políticos, porquanto estes são deuses intocáveis que mantêm os privilégios da Idade Média, incluindo o direito de empernar.

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