Passar
nos corredores e ouvir “vai pró caralho”, assim… tão natural como a sua
sede…
É mesmo assim… sem filtros nem letras esquisitas a codificar
as vogais para não ferir os olhos. Os
corredores das escolas não têm Piiiis, nem reticências nos palavrões,
os corredores das escolas não querem saber se gostas ou não do que ouves, se te
sentes bem ou mal, os corredores das escolas mostram bem o calibre do vernáculo
estudantil.
A falta de pudor em mandar 2 ou 3 “bojardas” atómicas que nos
atordoam os sentidos é a norma dos nossos jovens que começa a florescer lá para
o 1º ou 2º ano. Na selva dos corredores quem dita as leis não são os
professores ou os pais, são os meninos e meninas no seu estado mais puro, no
seu estado mais selvagem. Atravessar um
corredor cheio de alunos é uma autêntica prova de destreza física, o
ziguezaguear entre aqueles que se amontoam, os que se empurram e se movimentam
de forma anárquica e aleatória é uma prova de capacidade física que nem sempre
é fácil, onde o impacto está bem presente e o “deixar passar” é algo
que está ausente, demasiado ausente…
Quantos professores já não fingiram não ouvir os
palavrões? Quantos professores não se sentiram pequeninos perante tamanha
avalanche de má educação? Falar para quê? De que adianta? Ainda vão gozar
comigo depois de passar, pois eu é que sou o “cota”, o “chato”, o “antiquado”…
Hoje foi a minha vez… estava cansado de tanto chamar a
atenção… hoje fui egoísta e só quis entrar na sala sem me chatear, sem dizer as
frases do costume que de tão repetidas já nem causam impacto…
No espaço de 20 metros ouvi um “vai para o caralho”, um
“foda-se”, um “vais violá-la” e um “puta”, assim, tão natural como a sua sede,
entre risos de aceitação e de total normalidade…
Os autores desta tempestade literária nem se aperceberam que
lá estava, mas o problema é que a minha presença ou a presença de qualquer
professor não é garante de uma língua asseada, livre de micróbios
linguísticos… A má educação não é apenas uma
moda, é uma questão de integração e afirmação social e veio para ficar.
Ano após ano, o alunos vão passando mas o padrão mantém-se: a
má criação, os papéis para o chão, a indiferença perante o professor que passa,
tudo é normal, tudo é natural e tudo cansa, desgasta e dá vontade de ir embora
e não olhar para trás.
A indisciplina é o cancro do ensino, destrói o
sucesso, destrói o ambiente escolar, consome professores e
mostra a crise de valores que infelizmente não se fica pelos alunos…
Se os pais ouvissem o que os professores ouvem naqueles
corredores, corariam de vergonha, ou então talvez não… alguns até se sentiriam
confortáveis, adaptados, integrados naquele ambiente, pois seria apenas uma extensão do seu habitat natural, uma
extensão do que dizem lá por casa e que é tão bem, demasiado bem repetido,
aceite, assimilado, assim… tão natural como a sua sede…
PARA MUITOS PROFESSORES AS SALAS DE AULA TRANSFORMARAM-SE EM CÂMARAS DE TORTURA. Impera o barulho, a indisciplina, o telemóvel, a desatenção, o insulto. Os imbecis que passaram pelos ministérios e que geraram este odioso sistema deveriam ser julgados e condenados. E os governos que, embora sabendo que esta é a situação na Escola Pública a nível nacional, não tomam medidas, deveriam ser prontamente demitidos pelo presidente da república.
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