Adoro este
jornal, por isso lhe venho fazendo publicidade aqui. Tiros, facadas,
assassínios, assaltos, violações, corrupções, prisões… Passei a ter o cuidado
de ficar numa mesa próxima do homem. Via na biblioteca municipal velhotes que,
embevecidos com a leitura do disputado «Correio da Manhã», mexiam os lábios a
cada sílaba, embora não me deixando perceber o que liam. Mas aquele leitor de
Café ia bastante mais longe. Ele devorava as páginas de uma ponta à outra. Mais
do que isso, o tipo declamava cada notícia, em voz alta, audível em toda a
sala. Descobri assim a forma de ouvir gratuitamente o «Correio da Manhã» todos
os dias, sem ter o trabalho de o ler. «A juíza reformada, de 51 anos de idade,
foi apanhada pela polícia luxemburguesa a coscuvilhar um site proibido da
internet, daqueles que alguns bispos do Vaticano gostam de apreciar para melhor
conhecerem os pecados do mundo. Aquela polícia pediu às autoridades portuguesas
para prenderem a criminosa, coisa que os colegas se recusaram a fazer». «Quer
que mande calar o homem?», perguntou-me a empregada. «Não senhor, deixe-o
recitar o jornal à vontade, adoro ouvir esta música enquanto saboreio a bica!».
Em cada dia eu ouvia histórias empolgantes diferentes: a do malandro que deu
uma facada noutro, o do ladrão que matou uma velhinha, a do polícia que fazia
parte de um gangue… Pura cultura, máxima informação. Amanhã, de manhã, lá
estarei de novo.
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